estrela
Substantivo feminino
Substantivo feminino
[Do
lat Stella]
1. Astr Astro que tem
luz própria, cintilante, e é da mesma natureza do Sol, parecendo sempre fixo no
firmamento.
2. Qualquer astro.
3. Destino, sorte.
(...)
5. Pessoa a quem se quer muito.
ósculo
Substantivo masculino
[Do lat osculu]
Substantivo masculino
[Do lat osculu]
1. O mesmo que beijo.
2. Beijo de paz e amizade.
Bom dia, Beija-flor!
Escrevo esta carta para não ser
lida por ti, com tinta invisível (só os que me amam conseguem lê-la!) e pena
própria, que não vôo mais.
Sabe o que é, Beija-flor? Os
verbos insistem na inconstância e o que “é” já “foi”, certamente, entretanto
vez ou outra acorda hora como “será”, hora “seria”, e quando peço por
“fôssemos” ele me responde com “formos”. Vá para rua! Vá para fora!, mas,
gozador, o verbo pega o “fora”, muda a entonação e veste de “seja”, imperativo,
e ri enquanto zango-me, e diz que do “ser” ao “saber” só faltam duas letras que
insisto imaginar. Justo eu, ora essa, que sequer consigo reproduzir o Abaporu
em traços infantis ou criar um conto de duas laudas.
Os lugares também estão de
zombaria comigo, acredita? Os que fomos juntos perguntam-me de ti e questionam
o motivo das minhas mãos vazias; os que vou sozinha vêem sua sombra na minha e
comentam, desinteressadamente, sobre um casal que certa vez foi feliz e assim
seria se... Não os deixo findar e saio, Beija-flor, porque eles não entendem
que água não fura pedra, o sol que dá
vida também queima e forças iguais, mas opostas, se anulam. Descobri,
entretanto, que a cessação não é permanente, visto esta carta, que insiste em
se escrever.
Ah, Beija-flor, a Terra desgirou
e girassol agora segue a Lua, gato foi visto ladrando e Newton caiu na cabeça
da maçã. A única coisa que roda em sentido horário, e bate junto com o relógio da
igreja matriz, é meu coração, mas ele
deu para carrear sangue branco, leitoso, que as cores foram embora
contigo, gota a gota, num óstio que não cicatriza. Engraçado, né? Anotarei aqui
um apontamento sobre ir ao médico.
Ah, ia esquecendo-me! Espalhou-se
na praça: as estrelas contaram para as águas, que contaram para os peixes, que
contaram para os pássaros, que cantaram para mim: duas constelações novas se
entrelaçaram, a Figa e a Fuga, astros menores. E enquanto aquela ascendia
fulgurante esta perdia terreno e planetas, e o tempo não era bom com ela. Nem
com a primeira, se quer saber, porque sua nebulosa, baseada em esperança, era
um gato de Schrödinger e estava viva e morta. Em prol da sua concretude
Andrômeda ofereceu-se em sacrifício, Sagitário dispôs sua seta e até a discreta
Antares opinou que, então, na ausência de um consenso, melhor era tudo se
acabar. Nada disso adianta, Beija-flor! Antares está certa, mas, ah, se fosse
fácil assim... Oxalá Astrologia fosse Matemática!
Relendo-me agora não tenho mais
certeza sobre a invisibilidade desta epístola. Ou seria este meu desejo? Duas
vezes o dois é vinte e dois ou fevereiro? Não sei, e para não confundir-me além
da sanidade e ir a galope à psicose poupo-me a internação na Casa Verde de
Itaguaí e findo por aqui. Minhas últimas palavras para ti, pelo menos por hoje,
ou esta hora, certamente nesta carta, ei-las:
“Parabéns, meu amor!”
Ósculos!