quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

2015


Liberdade
sf (lat libertate) 
1. Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. 
2. Poder de exercer livremente a sua vontade. 
(...)
4. Condição do ser que não vive em cativeiro. 
(...)
7. Independência, autonomia. 
8. Ousadia. 
9. Permissão. 
10. Imunidade.



2015 foi um ano de muitas lágrimas pra mim. Chorei porque consegui o emprego que queria, porque fiquei frustrada, porque consegui um apartamento novo pra morar; choraminguei porque fui avacalhada na residência, porque conheci pessoas excelentes na residência, porque fiquei muito doente na residência; lacrimejei porque recebi presentes maravilhosos do Star Wars nos amigos ocultos de fim de ano, porque me senti muito sozinha, porque recebi abraços e convites inesperados em momentos de fragilidade. Mas estes são só os fins. O mais valoroso é o meio. O verbo. Chorei. 

Neste ano, mais que em qualquer outro, entrei em contato com meus sentimentos e pude experienciá-los do modo mais livre até hoje. Com menos medo, menos vício de pensamento, mais razão, mais emoção. Tive o insight na terapia e chorei por conseguir, finalmente, chorar.

A água circula por um riacho como as sensações passam pelo corpo. Há vários poços por onde a água roda antes de fluir. Esses poços são como os nossos sentimentos. Se não houvesse nada em volta o riacho fluiria puro e claro, porém a vida tumultuada, as experiências ruins e os traumas (principalmente infantis) tendem a cair no riacho, então este não pode correr serenamente. Se abrirmos os caminhos entre os poços elaborando as sujeiras do pensamento a energia flui, limpando e desenferrujando todos os nossos sentimentos.

Em terapia meus medos têm ficado claros para mim. Olho toda a culpa que carrego. Do que me culpo? Quais são minhas maiores decepções comigo mesma? Aceitar a realidade de que essas coisas aconteceram sem deixar que elas nublem minhas emoções foi uma cutucada na sujeira do poço. Se quero ser uma influência positiva para os que me cercam tenho que perdoar a mim mesma. Eu jamais chegarei ao equilíbrio se negar partes da minha vida. Os sentimentos são bloqueados pelas mentiras que contamos a nós mesmos. Não podemos mentir sobre a nossa própria natureza.

Cavei fundo e deparei com um mar de emoções – antes ocultadas - este ano. A manifestação da liberdade são as lágrimas. A porta sem maçaneta está aberta. Choro e chorarei sempre a partir de 2015. Os sentimentos hão de fluir como o riacho.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sabor de mãe



Gatorade 
1. Marca de bebida isotônica, constituída por água, sais minerais e maltodextrina, em concentração similar à dos fluidos naturais do corpo humano. 
2. É considerada um repositor hidroeletrolítico. 

mãe 
sf (lat matre) 
1. Mulher, ou fêmea de animal que teve um ou mais filhos. 
2. Ascendente feminino em primeiro grau. 
(...) 
5. Mulher generosa, que dispensa cuidados maternais. 
6. Pessoa que protege muito a outra. 

infância 
sf (lat infantia) 
1. Período da vida, no ser humano, que vai desde o nascimento até a adolescência; meninice. 
(...) 
4. O começo da existência de alguma coisa. 



Gatorade de limão tem o sabor da minha mãe. E no primeiro gole ela está ao meu lado. 
Eu tenho oito anos e uma diarreia. Ela traz o remédio: Gatorade de limão. 
Sinto o gosto dos passos dela empunhando a fórmula. Pó na água. Tudo branco. 
É para não ficar no hospital tomando soro na veia. 
Tento, mas sou lavada pelo vômito. E sinto o cheiro dela vindo com mais. 
Não vai ter jeito. Não teve jeito, tomei soro na veia. E muito Gatorade de limão. Como agora. 
Gatorade de limão tem o sabor da minha mãe. E no primeiro gole ela está ao meu lado.