renda
Substantivo feminino
1. Obra de malha feita com fio de linha, seda, ouro ou prata, apresentando desenhos mais ou menos caprichosos, que serve para guarnecer peças de vestuário, roupas de cama
Substantivo feminino
1. Obra de malha feita com fio de linha, seda, ouro ou prata, apresentando desenhos mais ou menos caprichosos, que serve para guarnecer peças de vestuário, roupas de cama
alquimia
Substantivo feminino
[Do ár al-kîmiyâ, do gr khymeía, mistura de líquidos]
Substantivo feminino
[Do ár al-kîmiyâ, do gr khymeía, mistura de líquidos]
1. Química da Idade Média.
2. Arte que procurava descobrir
a pedra filosofal, com que transformariam em ouro outras substâncias, e a
panaceia universal.
eterno
Adjetivo
[Do lat aeternu]
Adjetivo
[Do lat aeternu]
1. Que não tem princípio nem
fim.
2. Que teve princípio, mas não
terá fim.
3. De duração indefinida.
4. Que se faz ou se repete
amiúde.
5. Imortalizado, célebre
“Olê muié rendera
Olê muié rendá
Tu me ensina a fazê renda
Que eu te ensino a namorá”
Oculta sob pedras, tijolos e temores, onde o deserto, o mar
e o céu dão as mãos, estava uma fidalga de tez lívida, cabelos fulvos e mãos
talentosas. Sua virtude era a criação, e com os dedos, que bailavam, tecia e
bordava com tamanha delicadeza que as próprias ninfas, dos bosques adjacentes,
se apoiavam sobre os cotovelos nas janelas de suas torres para vê-la coser. Tudo
que findava ganhava vida. As estrelas das suas bandeiras pareciam colhidas da
noite, os cavalos dos seus brasões relinchavam, seus tapetes eram os mais
felpudos e suas rendas as mais firmes e leves já experimentadas. Diziam ter
aprendido com as Moiras; os mais ousados, ser filha d’alguma; os insanos, ser
uma delas.
Em seu tempo livre tinha apreço por passear nas brenhas,
onde conversava com sátiros e mênades e banhava-se no rio de Heráclito. Certo
dia, como por uma peça, o Vento balançou galhos e fê-la vista, semi vestida,
aos olhos de um jovem alquimista que ali estava à procura de ingredientes.
Embasbacado – uau! – aproximou-se, ofertando-lhe a panacéia. Beberam dela.
Beberam de si mesmos. Durante a alvorada murmurou-lhe um encantamento e viu
seus olhos cerrando-se mais. Partiu vendo os cabelos dele, negros como as
trevas, que davam lugar à coroa de Hélio, serem trançados pelos dedos do mesmo
Vento pândego que promovera o encontro.
Na manhã seguinte, enquanto sua roca girava, um bem-te-vi
trilou-lhe que fosse à janela. Do alto da torre mais alta viu uma pequena nuvem
de poeira; forçou os olhos e conseguiu vislumbrar não só um cavalo, como seu
cavaleiro, o alquimista. Segura de sua intatilidade voltou a fiar. Seu castelo
era cercado por baluartes, casamatas, barbaças, cadafalsos, fossos e pontes
levadiças. Seus portões eram grossos, maciços e em suas muralhas haviam
fenestras para o disparo de flechas. Apesar de toda tentativa de aproximação
ser rechaçada, o cerco foi montado.
Passaram-se dois meses – ou seriam anos? – e cada empecilho
era vencido. O alquimista entendia de ilusões e manejava bem o fogo; cozia
poções e porções, curava-se dos ferimentos como que por bruxaria, e era um
mestre estrategista. Por vezes ela achou que vira mais de um homem tentando
furar o bloqueio e questionou-se sobre a veracidade do mito dos homúnculos.
Aberto o último portal por um aríete invisível, feito de perseverança e cádmio,
encontraram-se no enorme pátio, ela rendida, ele com um girassol na mão.
Por um período, ou dois, foram felizes juntos. Ela era vista
assoviando canções que ainda nem existiam, num radiar que fazia ciúme às filhas
bastardas do Sol, enquanto as flores do seu jardim nasciam com mais pétalas e
faziam pequenas reverências quando ela passava. Nesta temporada seus feitos
tornaram-se ainda mais grandiosos e deles fulgurava uma luz sobre-humana. Até
os animais ficaram mais férteis e muitos deles aprenderam, da língua dos
homens, palavras belas para bendizê-la.
Entrementes, um dia a brisa soprou gelada e os sorrisos
fugiam como animais de uma queimada. Algo funesto crescia no alquimista, e ele
tomava seu xarope com mais freqüência, e escondia as ervas com que fazia
supostos emplastros, e dizia caçar quando ia à floresta procurar cogumelos para
entibiar-se. Suas rendas, percebeu, estavam frágeis e sua roca quebrou;
confundia-se nas tranças e seus dedos ficaram abobalhados. Freqüentemente
esquecia cosidos usuais e, sem saber o pretexto, matava a sede com lágrimas
próprias. As mênades riam dela, enquanto as ninfas pediam intervenção divina.
Certo dia recebeu de um anão itinerante, com quem comerciara
dois tapetes e algumas malhas, um anel forjado com maestria que possuía como
solitário uma pedra deveras incomum. Naquela tarde, ao conversar com seu
consorte em seu aposento, no topo da torre mais alta, reparou, por trás do
sotaque estrangeiro e da voz, agora pastosa, que ele já não falava mais com a
fluência de antes. Sua voz, melodiosa e doce, que fazia com que tudo que fosse
dito parecesse sábio e razoável, tornara-se rude e agressiva, e suas palavras,
mesmo que graciosas, já não faziam sentido.
Seus olhos, midriáticos, brilhavam como uma chama verde
lodosa; ela olhou muito fundo – o que foi sua ruína - e encontrou muita
ganância somada a intenções dúbias. Temeu e tremeu. Ao tomá-la pela mão o
alquimista reconheceu o antaglifo, pedra cuja faculdade era a de fazer seu portador
não se impressionar com nada, e percebeu que a fascinação estava quebrada.
Nenhuma de suas ilusões poderia opor-se ao fim ululante. Aquela noite seria o
marco final daquela Era.
Ela ouvira falar na chama verde, a chama eterna, desgraça viva,
consciente e determinada de seus objetivos, que só acaba quando consome tudo
que a cerca, tendo como vítima final seu hospedeiro. Era um traço inato, não
havia subterfúgio! Desesperançada, aproveitou um segundo de oportunidade,
desvencilhou-se do alquímico e jogou-se da janela da torre. Não houve
estampido. No lugar ouviu-se o bater de asas e uma ave com plumagem amadeirada
foi vista pairando em direção à floresta. Enquanto planava, piava “foi...
foi... foi...”. As ninfas foram ouvidas! Assim nasceu o urutau.
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